
PAULO VITORINO FONTES 79
4. Honneth e outras abordagens do reconhecimento na teoria política
internacionnal
Para além da teoria de Honneth, como tema, as lutas por reconhecimento têm
inspirado vários autores, como Edward Carr ([1939] 1981), Alexander Wen
-
dt (2003), Jürgen Haacke (2005) e Erik Ringmar (2010) que desenvolveram
a teoria política internacional do reconhecimento, e até mesmo o realismo de
uma forma mais vasta, entendido como uma pesquisa programa, é cada vez
mais inclinado a fazer referência ao reconhecimento.
Carr ([1939] 1981) na sua obra Vinte Anos de Crise: 1919-1939 apresenta
-
-nos um esforço de interpretação de uma realidade conturbada e perturbadora
do mundo no período entre guerras, expondo argumentos críticos às perce
-
ções correntes manifestas em atitudes e ações políticas que, sucessivamente,
se revelavam inadequadas por não reconhecerem as dimensões mais inquie-
tantes da realidade econômica, política e social. Ao longo desta sua obra, que
se tornou uma referência no estudo das RI, é feita uma crítica ao realismo
político, aos seus limites, procurando contrabalançar a utopia com a reali-
dade, a teoria com a práxis. E, ao preocupar-se com a moral na nova ordem
internacional, Carr [1939] 1981, p. 301) arma que “se é, contudo, utópico
ignorar o elemento poder, é uma forma irreal de realismo o que ignora o
elemento moral em qualquer ordem mundial”. Pois, e prossegue o autor, “as-
sim como dentro do estado todo governo, embora necessite do poder como
base de sua autoridade, também precisa da base moral do consentimento dos
governados”. Carr atribui grande importância aos aspectos normativos da
política internacional ao longo da sua obra), referindo que “o lugar da moral
na política internacional é o problema mais obscuro e difícil de todo o campo
dos estudos internacionais” (Carr, [1939] 1981, p. 189).
Décadas mais tarde, Wendt (2003, p. 510) apresenta uma argumentação es
-
trutural, tal como os neorrealistas, mas não deixa de assumir que para gerar
qualquer movimento na teoria estrutural, temos que assumir que os autores
procuram algo, de modo que ao nível micro deve existir um elemento de bus-
ca de objetivos, por conseguinte, teleológico. Enquanto os neorrealistas assu-
mem que as pessoas procuram acima de tudo a segurança física (Waltz, 1979,
p. 126), o que signica na perspectiva de Wendt que a lógica da anarquia é a
luta por segurança. Wendt acredita que as pessoas procuram segurança, mas
também procuram reconhecimento, o que signica que a lógica da anarquia é
também uma luta por reconhecimento. Uma vez que os neorrealistas esperam
uma anarquia contínua em vez de um estado mundial, essas duas lutas podem